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Refugiar-se por melhores condições de vida

Dia 20 de junho é o Dia Mundial do Refugiado. Há muitas razões para uma pesssoa se tornar refugiada. A definição clássica envolve perseguição por razões de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas.


A Declaração de Cartagena de 1984 incluiu a essa definição a violação maciça dos direitos humanos ou outras circunstâncias que tenham perturbado gravemente a ordem pública.


Ao norte do Brasil há um outro grupo de pessoas buscando refúgio. São os migrantes venezuelanos, indígenas Warao em sua maioria. A Venezuela é palco de uma grande crise humanitária e fonte de uma das maiores crises migratórias do mundo. Quase 7.7 milhões de migrantes e refugiados saíram da Venezuela nos últimos anos, principalmente desde 2015.


Os venezuelanos buscam melhores condições de vida, devido à pobreza generalizada, escassez de alimentos, medicamentos e outras necessidades básicas. Além da falta de produtos, a alta taxa de inflação dificulta o acesso aos bens e serviços disponíveis. A vida cotidiana virou uma luta por sobrevivência diária. Preservá-la e sua integridade são as principais motivações daquele que busca refúgio. No entanto, a jornada de reconstrução da vida em um novo país não é simples e é necessário muito apoio.


O estado de Roraima faz fronteira com a Venezuela e é lá que se encontra o projeto Pontes do Exército de Salvação que atende migrantes e refugiados venezuelanos, de forma a auxiliá-los na adaptação e no acesso a políticas de proteção, buscando diminuir os riscos sociais que existem nessa situação. Além de oficinas de incentivo ao aprendizado de língua portuguesa, há também atendimento jurídico e psicológico e atividades para o fortalecimento da autonomia econômica das mulheres.


Pessoas que buscam refúgio em outro país estão mais vulneráveis ao risco de tráfico e também a ofertas enganadoras de emprego, estando mais suscetíveis a trabalhos análogos ao escravo. O Projeto Pontes oferece também orientação em relação ao tráfico de pessoas por meio de rodas de conversa e outras atividades, como o assessoramento jurídico.


A palavra refugiado faz parte do meu vocabulário desde a infância. Sempre ouvi de minha mãe que minha avó era refugiada da Palestina. Fugiu de sua terra em 1948 quando foi expulsa de sua casa e teve que correr por sua vida, em busca de um lugar onde sua existência fosse permitida. Após passar pelo Líbano e pela Síria, chegou ao Brasil, terra que a acolheu, onde teve seus filhos e construiu novas memórias.


Hoje a Palestina vive uma crise similar, ataques diários a civis desarmados e desprotegidos, filmados e assistidos pelo mundo em tempo real. Essa crise tem gerado um grande número de pessoas deslocadas que não podem nem pedir refúgio exterior pois não lhes é permitido sair.


Atualmente no mundo há muitos outros casos de pessoas deslocadas de suas casas, realidades conhecidas e grupos de amigos e familiares. Seja da Venezuela, Ucrânia, Palestina ou do Congo, quem busca refúgio está em situação de extrema vulnerabilidade, muitas vezes com traumas diversos. O acolhimento inicial é crucial para melhorar a experiência desse grupo de pessoas no país, que passará a acolhê-las e minimizar os desafios e riscos envolvidos numa situação de deslocamento forçado.



Juliana Feres

Consultora do Exército de Salvação para o

Enfrentamento à Escravidão Moderna e ao Tráfico de Pessoas (EMTP)



Artigo publicado na revista RUMO (Maio/Junho 2024)


 

"Displaced" ou "Deslocados" é um documentário de 50 minutos gravado pelo Exército de Salvação em Roraima, Santa Catarina e São Paulo, incorporando também experiências de migrantes ao redor do mundo.


Clique em CC e escolha "Português Brasil" para assistir com legendas em português.




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